Agenda europeia de negociações
A União Europeia possui 36 acordos comerciais que eliminam entraves e estabelecem regras para o comércio com mais de 60 países. Com movimentos nacionais em favor do encurtamento das cadeias produtivas e do beneficiamento do produto europeu, sobretudo com relação à agricultura, o cenário político em Bruxelas não está tão favorável às negociações bilaterais e multilaterais quanto nas duas primeiras décadas do século. Não obstante, algumas frentes negociais estão abertas e merecem atenção daqueles que consideram negócios com a União Europeia.
Marrocos
O país do Magreb africano e a União Europeia têm um acordo de livre comércio em vigor desde 2000 com liberalização total para o setor industrial. Compromissos adicionais foram assinados em 2012, incluindo um acordo parcial para bens agrícolas e um sistema de solução de controvérsias, e em 2019 com um protocolo adicional que flexibilizou as regras de origem para produtos procedentes do Saara Ocidental, área de contestada soberania entre grupos políticos locais e o Marrocos. Sob os áuspices da atual revisão da política comercial europeia, a Comissão planeja aprofundar a parceria com o Marrocos que, segundo alguns posicionamentos oficiais, está defasada com relação à sustentabilidade, investimentos, serviços e bem-estar animal. O protocolo de 2019, que estendeu as disposições do acordo para produtos agrícolas e direitos de pesca ao Saara Ocidental, foi suspenso em setembro pelo Tribunal de Justiça da União Europeia. A ação foi movida pelas lideranças separatistas da região que alegam que autorizar barcos de pesca europeus para atuar nos limites aquáticos do território age contra os interesses locais. A decisão pode ser ainda recorrida para decisão no tribunal.
Austrália
Não apenas as negociações com o país oceânico haviam despertado oposição de alguns setores europeus, sobretudo aqueles ligados à produção agropecuária, mas os objetivos estratégicos foram questionados também sob um viés político. Isso porque a Austrália cancelou, em setembro, a compra de 8 submarinos militares que havia sido encomendada junto a produtores franceses estimada em € 50 bilhões. O contrato foi realocado em benefício de um consórcio firmado entre Estados Unidos e Reino Unido. O movimento foi visto com desconfianças pela elite política francesa e europeia, e colocou em dúvidas o resultado das negociações comerciais cuja próxima rodada está prevista para a segunda metade de outubro.
Chile
Após a retomada das negociações para aprofundar a parceria comercial entre União Europeia e Chile, em 2017, o processo foi paralisado após o país sul-americano iniciar uma Assembleia Constituinte que deverá resultar em uma nova constituição no segundo semestre de 2022. Parlamentares chilenos e europeus declararam, contudo, que as negociações devem ser retomadas uma vez que o novo texto constitucional chileno esteja em vigor.