COP24: 5 tendências para o setor privado na agenda climática global
Eventos de destaque
Engajamento de empreendedores na 24ª Conferência do Clima da ONU mostra que sustentabilidade também é negócio brasileiro
Signatário do Acordo de Paris, o Brasil tem sido reconhecido por sua liderança e protagonismo em sustentabilidade, não somente no campo ambiental, mas também nos negócios. Empreendedores brasileiros, notadamente de setores-chave para a agenda climática como agronegócio e energias renováveis, vêm fazendo uso da agenda sustentável para ganhar mais competitividade enquanto contribuem para o atingimento dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organizações das Nações Unidas.
Esse movimento foi destaque da programação do Espaço Brasil na 24ª sessão da Conferência das Partes, a COP24, realizada na cidade de Katowice, na Polônia, entre os dias 02 e 14 de dezembro. Reunindo especialistas de 125 instituições de 18 países, o pavilhão, que foi patrocinado pela Apex-Brasil, foi palco de temas importantes de convergência entre a agenda climática e a pauta comercial brasileira.
Quer saber o que observamos por lá? Aí vão 5 tendências para o setor privado se engajar ainda mais com os objetivos globais:
1 – O problema A solução da terra
Em 2050, a população mundial deverá crescer para impressionantes 9,8 bilhões de pessoas. Com isso, a demanda mundial por alimentos deve aumentar em 50% nas próximas décadas. O Brasil se destaca entre os países capazes de atender a essa demanda uma vez que já se consolidou entre os principais exportadores de produtos agrícolas do mundo. Ao mesmo tempo, o agronegócio vem sido apontado entre os setores com maior responsabilidade na emissão de gases do efeito estufa na atmosfera. Uma verdadeira transformação no campo promete transformar uma relação antes contraditória em complementar.
“É importante que as pessoas entendam que as técnicas utilizadas nas fazendas são parte da solução, não do problema, e que sem elas os ODS não serão atingidos” – Martín Fraguio, diretor executivo GPS Latin America
Fazem parte da chamada agricultura sustentável as novas tecnologias que permitem otimizar a produção reduzindo o consumo de recursos naturais, além de técnicas de produção integrada que conservam o meio ambiente ao mesmo tempo que aumentam o volume e a variedade de produtos agrícolas nas fazendas.
“O Brasil já alcançou ótimos resultados na agenda climática porque a agenda do agronegócio é também a agenda da sustentabilidade. Um exemplo disso é o sistema de integração floresta-lavoura-pecuária já implementado nas fazendas brasileiras”, contou João Adrien da Sociedade Rural Brasileira durante painel sobre agricultura sustentável no Espaço Brasil na COP24.
2 – O caminho rumo ao Biofuturo
Outro tópico importante abordado na Conferência foi o desafio da descarbonização do setor de transporte, ainda amplamente depende de combustíveis de fontes fosseis (diesel e gasolina).
Líder na produção de etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, o Brasil agora busca estruturar estratégias de longo prazo para promoção dos biocombustíveis no setor. Entre as iniciativas de maior destaque na COP24, está o programa RenovaBio – um modelo inovador de fomento da cadeia produtiva baseado na previsibilidade, na sustentabilidade ambiental, econômica e social, e compatível com o crescimento do mercado.
“Iniciativas como o RenovaBio podem desenvolver o setor de combustíveis líquidos para transporte, produzindo mais e sustentavelmente” – Remigijus Lapinskas, presidente da World Bioenergy.
Além do RenovaBio, o Brasil também trabalha pelo desenvolvimento dos biocombustíveis no contexto internacional com a Plataforma para o Biofuturo. O movimento, lançado durante a COP22, no Marrocos, reúne 20 nações em prol dos combustíveis alternativos na matriz energética mundial. Um relatório sobre o cenário atual da bioeconomia foi lançado durante a conferência e pode ser acessado aqui.
3 – Energia renovada (e renovável)
É claro que não podemos falar sobre mudança climática sem considerar o impacto do setor energético, em especial a transição das fontes fósseis para alternativas renováveis. Mais uma vez, o Brasil se destaca no quesito, com cerca de 45% de sua matriz energética renovável (em contraposição a uma média de 15% para os demais países) e potencial quase ilimitado para desenvolvimento das indústrias eólica e solar.
“As fontes eólica e solar são o futuro da matriz elétrica do Brasil porque são limpas e comercialmente competitivas” – Elbia Gannoum, ABEEOLICA.
De fato, enquanto a indústria eólica deve se consolidar como a segunda maior fonte de energia elétrica do Brasil, há muita oportunidade para a solar se desenvolver visto que o Brasil é um dos poucos países do globo a contar com amplo acesso à fonte ao longo de todo o ano.
4 – Inovação: as respostas para o que ainda não perguntamos
O Brasil faz a sua contribuição no Acordo de Paris com metas ambiciosas, que incluem aumentar a participação de fontes renováveis no mix de energia do país para 45% (sendo 33% eólica e solar – 33% e 18% bioenergia), além de aumentar a eficiência energética no setor elétrico em 10% e promover tecnologia limpa e eficiência energética nos setores industrial e de transporte.
Além da promoção de políticas públicas que fomentem essas mudanças, o setor privado brasileiro aposta cada vez mais na inovação para encontrar as respostas para tamanho desafio. E os resultados são animadores. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) lançou durante a COP24 um estudo que analisa o que as empresas brasileiras têm feito para contribuir com as metas do Acordo. Só nos últimos três anos, foram desenvolvidos pelo setor privado mais de 1300 projetos focados na mitigação de emissões, o equivalente a US$ 85,8 bilhões investidos (confira o relatório completo aqui).
“O setor privado investiu mais na economia verde do que o próprio Banco Central” – Laura Albuquerque, CEBDS
5- A sustentabilidade como ativo comercial
A 24ª edição da Conferência das Partes trouxe à tona o resultado dos Diálogos de Talanoa – uma coletânea de boas histórias coletadas e compartilhadas entre as diferentes Partes do acordo, visando responder a estas três perguntas: 1) Onde estamos? 2) Para onde queremos ir? 3) Como chegar lá?.
“As experiências coletadas no Diálogo de Talanoa representam um exercício importante que precisa estar conectado às discussões de financiamento, às metas pré-2020 e ao livro de regras” – Embaixador José Antonio Marcondes, negociador do Brasil no Acordo de Paris.
A resposta brasileira trouxe ainda como mensagem principal a importância da sustentabilidade e da inovação para adicionar valor à cadeia produtiva de diferentes setores – o que, naturalmente, atrai investidores estrangeiros dispostos a patrocinar soluções de inovação em sustentabilidade no Brasil. É a tão cobiçada relação ganha-ganha.
“O setor privado do Brasil amadureceu ao longo dos últimos anos e as empresas já entendem e reconhecem o papel estratégico do compromisso com o desenvolvimento sustentável”, destacou Laura Albuquerque, do CEBDS.
—
A Apex-Brasil marcou presença na COP24 atuando junto a seus parceiros na organização dos painéis e fomentando discussões importantes sobre o papel do comércio internacional na agenda climática e nos #ODS. Confira nossa cobertura completa no Twitter @ApexBrasil_en (em inglês).
Equipe Apex-Brasil e CEBDS na COP24