ENTREVISTA COM JORGE SOTO, DA BRASKEM, SOBRE SUSTENTABILIDADE



A Braskem – gigante brasileira do setor petroquímico – é líder em seu segmento e um exemplo de empresa que se preocupa com a sustentabilidade e investe em tecnologia e inovação para redução de impactos ambientais. Exemplo mais famoso é o plástico verde, tecnologia desenvolvida pela empresa a partir do etanol da cana de açúcar.

 

A multinacional, que conta com unidades nos Estados Unidos e na Argentina, é agora parceira da Apex-Brasil no projeto Inovação e Sustentabilidade nas Cadeias Globais de Valor, desenvolvido em parceria com a Fundação Getúlio Vargas. Ela foi selecionada como uma das empresas âncoras da iniciativa e se responsabilizará por indicar parceiros ou fornecedores da sua cadeia de valor, que passarão por capacitações em relação ao tema. O objetivo é engajar toda a cadeia, e assim contribuir para a internacionalização dessas empresas, com base em atributos de sustentabilidade.

 

Jorge Soto é Diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem e presidente do Pacto Global no Brasil – iniciativa que tem o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção de valores nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. Nesta entrevista, ele fala sobre o case da Braskem e sobre como o tema da sustentabilidade vem se desenvolvendo no Brasil nos últimos anos.

 

1)A Braskem é reconhecida pelo case do plástico verde, que começou a ser desenvolvido em 2008 e hoje está presente em diversos produtos em todo o mundo. Você poderia nos contar, brevemente, como foi esse processo de inovação e qual foi a importância desse projeto para a companhia?

 

O desenvolvimento do Polietileno de origem renovável foi anunciado em 2007. Com apoio de um dos nossos clientes (Toyota Tsusho), investimos nos equipamentos necessários ao desenvolvimento desse produto. Em 2010, partimos para a criação da nossa primeira fábrica, que nos permitiu colocar essa resina no mercado.

 

A decisão sobre este investimento se baseou na competitividade brasileira na produção de etanol oriundo da cana de açúcar, e na capacidade tecnológica das equipes da Braskem.

 

O projeto foi capaz de colocar a Braskem como líder mundial da produção de biopolímeros. Foi uma demonstração clara de que a Braskem estava concretamente determinada a contribuir para o desenvolvimento sustentável. Essa estratégia nos trouxe uma exposição internacional.

 

Mais recentemente, a Braskem foi reconhecida como uma das 50 empresas mais inovadoras do mundo pela revista Fast Company (revista especializada em inovação) e entre as dez mais inovadoras do mundo, com impacto social.

 

2) Quais são os avanços que você identifica no Brasil em relação à sustentabilidade?

 

Creio que o Brasil ainda se mantém como um dos países que de fato tem uma contribuição positiva para o desenvolvimento sustentável. Além da já conhecida matriz energética mais limpa (geração hídrica e de biomassa), destaco a redução do desmatamento de floresta e a consequente redução de emissões de gases de efeito estufa. Estima-se que o Brasil já tenha reduzido mais de uma gigatonelada de emissão de CO2 na atmosfera, na comparação de 2005 para 2011.

 

3)E especificamente em relação à indústria?

 

Merece destaque a menor pegada de carbono de vários produtos da nossa indústria. Para exemplificar como um produto do nosso setor, o Polietileno de Baixa Densidade Linear produzido aqui tem uma pegada de carbono mais de 30% inferior ao similar produzido na Europa e mais de 15% menor que o produzido nos EUA.

 

4)Em sua opinião, como as empresas podem adotar boas práticas de sustentabilidade para se diferenciar no mercado internacional? Isso tem sido feito pelas empresas brasileiras?

 

É um processo que está em um estágio inicial. Empresas com sólidas estratégias associadas à inovação em produtos já colhem esses frutos, como a Braskem e a Natura, por exemplo. Há também outras empresas menores, por exemplo algumas que usam produtos de origem da região amazônica decorrentes de manejo florestal adequado, que já exportam seus produtos “mais sustentáveis”. Não tenho dados tão amplos dessas empresas.

 

De todo modo, infelizmente percebemos que o interesse por produtos com menor impacto socioambiental caiu após a crise de 2008, mas aos poucos esse interesse volta a crescer em todo o mundo, inclusive no Brasil.

 

5) Qual é a sua visão de futuro do Brasil na seara da sustentabilidade? Qual é o nosso papel no cenário global?

 

Creio que o Brasil pode ser um importante líder na caminhada para um mundo mais sustentável. Dispomos de ativos importantes para isso: nossa matriz energética, uma boa disponibilidade de recursos hídricos (apesar de estresses localizados), idem para solo arável, vários setores industriais com algum grau de atualização tecnológica (entre eles o químico), várias empresas com apetite para inovar e para se posicionar de forma diferenciada em desenvolvimento sustentável, entre outros.

 

Dessa maneira, creio que o Brasil tem um potencial para oferecer soluções mais sustentáveis para o mercado local e internacional. No setor químico, por exemplo, poderíamos nos tornar uma espécie de Arábia Saudita da química verde. Esse é nosso potencial, mas para que se torne realidade, é preciso haver esforços tanto do lado empresarial quanto governamental.

 

6) Fale um pouco sobre o Pacto Global, qual é a importância dele e como este movimento tem avançado aqui no Brasil?

 

O Pacto Global está se posicionando como um local para promoção de parcerias. Primeiramente entre empresas da iniciativa privada. Em março de 2010 a rede brasileira tinha 370 membros. Hoje, atingimos 630 membros. Temos crescido em torno de 13% ao ano, demostrando o interesse na troca de experiências empresariais.

 

Também estamos promovendo parcerias com as organizações multilaterais da ONU, apoiando-as nas suas agendas para a promoção do desenvolvimento sustentável. Recentemente, por exemplo, apoiamos o PNUD, a UNIDO e o Banco Mundial na consulta pública em torno dos meios de implementação dos objetivos globais do desenvolvimento sustentável.

 

Entendemos que o desafio da sustentabilidade é de tal porte que não pode ter donos ou silos. Nosso principal desafio é ampliar o impacto das ações individuais através de parcerias.

 

            7) Como o tema sustentabilidade entrou na sua vida e como a sua trajetória profissional nesta área se desenvolveu?

 

            Entendo que minha educação familiar foi o principal mote para minha adesão aos princípios do desenvolvimento sustentável. O viés social da educação que recebi na escola de origem jesuíta também deve ter contribuído, mas seguramente as questões éticas vieram de berço.

 

            Falo em ética pois entendo que o respeito aos direitos das demais pessoas (de forma genérica chamados de direitos humanos), às questões da preservação ambiental e às questões ao combate à corrupção configuram a base dos princípios da sustentabilidade e representam a ética de que precisamos nos apropriar pessoalmente.

 

           Profissionalmente, o tema entrou na minha vida à medida em que a Braskem foi amadurecendo. A Braskem, apesar de ter sido estabelecida em 2002, contou e conta com a experiência das empresas que a formaram, várias das quais tive a felicidade de passar momentos de minha vida profissional, ao longo dos últimos 25 anos.

 

           Como engenheiro, entrei na área de produção focando a melhoria dos nossos processos industriais. Esse foco de melhoria foi sendo ampliado até chegar à minha situação atual, que busca apoiar a melhoria de toda a empresa nesse tripé econômico-social-ambiental. É muito gratificante ver os frutos concretos da caminhada desta empresa, o que retroalimenta positivamente minhas escolhas pessoais.

 

           Imprensa – Apex-Brasil

 

          (61) 2027-0775

 

           imprensa@apexbrasil.com.br