PRODUÇÃO DE ETANOL NA ÍNDIA: RENDA MAIS SUSTENTÁVEL E MENOS EXCEDENTES DE AÇÚCAR
Aumentar a produção de etanol na Índia proporcionaria renda extra aos produtores, tornando o setor sucroenergético daquele país mais competitivo, além de outras vantagens econômicas e ambientais advindas de uma menor dependência de energias fósseis (petróleo e carvão). Tal diversificação ajudaria a inibir a subvenção indiana dada às exportações de açúcar, prática distorciva de comércio que tem contribuindo fortemente para derrubar os preços no mercado internacional em aproximadamente 40% em 2018.
Esta foi a mensagem principal da assessora sênior da presidência para Assuntos Internacionais da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Geraldine Kutas, durante 9º Kingsman Asia Sugar Conference, evento que reuniu mais de 300 participantes em Nova Deli, capital da Índia, entre os dias 05 e 06 de setembro. A executiva integrou mais uma ação da entidade brasileira em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para promover os derivados da cana no exterior.
“Hoje, a Índia cultiva cana exclusivamente para produzir açúcar. Isso resulta em volatilidade dos preços nos mercados globais devido aos subsídios à exportação aplicados nos anos em que o país apresenta excedentes de açúcar, que somente em 2018 será da ordem de 10 milhões de toneladas. Isso não apenas viola as regras da OMC, prejudicando exportadores como o Brasil, como também é insustentável e caro para a economia local”, explica Geraldine Kutas, que participou de um painel de debates juntamente com o diretor geral da Associação de Usinas de Açúcar Indiana (ISMA), Abinash Verma, e o porta-voz da Aliança Agro Ásia-Brasil e ex-presidente da UNICA, Marcos Jank.
Segundo a executiva, apostar nas energias renováveis, especificamente no etanol, representa uma oportunidade para incrementar a remuneração das usinas e dos produtores de cana na Índia. “Eles lançaram um forte programa de etanol com uma mistura obrigatória de 10% à gasolina até 2022. Este ano, o governo já permitiu a produção do biocombustível a partir do melaço e do caldo de cana, além de aumentar o preço fixo do etanol. Trata-se de uma iniciativa de renda sustentável para agricultores e meio ambiente. Haverá descarbonização do transporte veicular, vital para a redução da poluição local, e maior geração de empregos, tanto no campo quanto na indústria”, comenta Geraldine.
Considerada uma da economia que mais crescem no mundo, a Índia é a terceira nação que mais consome de energia no mundo, atrás de China e Estados Unidos. Por este motivo, o país, que já ocupa a posição de quarto maior emissor de dióxido de carbono (CO2), necessita urgentemente conciliar prosperidade econômica com desenvolvimento ambiental.
“Somente em 2017, as emissões indianas aumentaram 4,6%. Eles ainda são muito dependentes de energias fósseis, como carvão e petróleo, que juntos representam quase 80% da matriz energética. A poluição do ar causada pelo uso destas fontes é dramática, visto que 14 das 15 cidades mais poluídas do mundo estão na Índia. O Brasil é testemunha do poder mitigador do etanol, capaz de reduzir em até 90% a emissão de CO2 em comparação à gasolina, e do seu impacto positivo sobre a qualidade do ar”, avalia a assessora internacional da UNICA
Dados da UNICA indicam que, nos últimos 15 anos, o biocombustível (anidro e hidratado) utilizado em carros flex evitou que mais de 480 milhões de toneladas de CO2 fossem despejadas na atmosfera. De acordo com a plataforma online Global Carbon Atlas, este volume equivale ao que foi lançado em conjunto por Argentina (209 milhões de toneladas – Mt), Chile (87 Mt), Colômbia (85 Mt) e Equador (40 MT). Ou as emissões individuais da Itália (359 Mt.), França (344 Mt) e Espanha (261 Mt) em 2017.
Legenda para foto: (Esq. p dir.) Painel moderado por Aditya Rao (PLR Chambers) teve participação de Abinash Verma (ISMA), Geraldine Kutas (UNICA) e Marcos Jank (Aliança Agro Ásia-Brasil) (crédito: Bonsucro)
Projeto UNICA Apex-Brasil
A Apex-Brasil e a UNICA tornaram pública em fevereiro de 2008 uma estratégia para promover a imagem dos produtos sucroenergéticos no exterior, em especial do etanol brasileiro como uma energia limpa e renovável. As duas entidades assinaram um convênio que prevê investimentos compartilhados. O projeto pretende influenciar o processo de construção de imagem do etanol e demais derivados da cana junto aos principais formadores de opinião mundial – governos e meios de comunicação, bem como empresas de trading, potenciais investidores e importadores, ONGs e consumidores.