Jarid Arraes: “pensar no coletivo me encoraja na literatura”



Jarid Arraes: “pensar no coletivo me encoraja na literatura”

Neste ano, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) teve pela primeira vez uma mulher cordelista como parte da programação: Jarid Arraes. A escritora brasileira faz parte da Série Autores Brasileiros, uma iniciativa do Brazilian Publishers — projeto de internacionalização de conteúdo editorial brasileiro realizado por meio de uma parceria entre a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).

O gênero explorado pela escritora é muito popular no Brasil, principalmente na região do nordeste. Narrado de forma rimada, o cordel é originado em relatos orais e publicado em folhetos. Jarid Arraes é autora das obras “As Lendas de Dandara” (2016 – Editora de Cultura), “Redemoinho em dia quente” (2019 – Editora Alfaguara), “Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis” (2017 – Pólen Livros), e “Um buraco com meu nome” (2018 – selo Ferina).

Jarid nasceu em Juazeiro do Norte, cidade localizada na região metropolitana do Cariri, interior do estado do Ceará, e desde sua infância teve contato com a literatura. O cordel é, inclusive, uma herança de família: seu avô, Abraão Batista, e seu pai, Hamurabi Batista, foram ambos cordelistas e xilogravadores.

A escritora começou de forma independente, aos 20 anos de idade, publicando suas obras no blog Mulher Dialética. Em 2015, lançou seu primeiro livro em prosa de forma independente: “As Lendas de Dandara”, traduzido para o francês e publicado em outubro de 2018 na França, sob o título de “Dandara et les esclaves libre”, pela editora Anacaona.

A obra nasceu de uma vontade de trazer as questões raciais e a herança histórica à tona, com a proposta de misturar lendas e fantasia com fatos históricos sobre a luta dos escravos no período colonial brasileiro. A autora afirmou que teve dificuldade de entrar no mercado editorial devido aos temas que abordava, mas que não desistiu de publicar seus títulos. “Quando escrevemos algo pensando só em nós mesmas, é mais difícil. Pensar no coletivo me encoraja na literatura”, afirmou.

Nem sempre, porém, Jarid se identificou com Juazeiro do Norte. Quando chegou a São Paulo, o anonimato de cidade grande a confortou e contrastou com a vida com a qual estava acostumada. “Quando eu era mais nova eu não sentia que pertencia ao Cariri, não me encaixava na cultura de interior e na religiosidade. Voltei recentemente para visitar Juazeiro e fotografando a cidade exercitei a observação: olhei com mais atenção para as pessoas e para a região e ressurgiu um respeito que eu tinha deixado dormir”, conta.

Em “Redemoinho em dia quente”, a autora brasileira faz as pazes com a cidade natal. O livro de estreia no universo de contos traz diversas histórias sobre mulheres brasileiras, entre elas moradoras do Cariri, que não se encaixam em padrões e desafiam expectativas.

Apesar de serem prosa, as narrativas possuem o ritmo e a oralidade do cordel.  “O gênero sempre foi muito familiar e íntimo para mim, e por isso queria abordar temas com que me identifico, trazendo mulheres como protagonistas. Queria que cada conto fosse narrado pela voz da própria personagem”, finaliza Jarid.