Seca no Brasil afetará o fornecimento mundial de café em 2021



Seca no Brasil afetará o fornecimento mundial de café em 2021

Entre as causas estão mudança climática e clima extremo

– Agricultores esperam um impacto semelhante ao da seca de 2007 –

Brazil. The Coffee Nation diz que o apoio dos consumidores e de outros países é fundamental –

– Investimentos brasileiros em sustentabilidade do café ultrapassam R$ 1,27 bilhão em 2020 –

A seca nos principais estados produtores de café do sudeste brasileiro pode impactar o fornecimento global em 2021. Em paralelo, em 2020, os produtores brasileiros aprofundaram o compromisso com a agricultura sustentável, investindo mais de R$ 1,27 bilhão em energia solar, reflorestamento, polinização de abelhas, compostagem orgânica e programas de uso de água, assim como em novos equipamentos.

O impacto nos volumes de café deverá ser de dois dígitos, afetando também os preços. A última seca sofrida pelo sudeste do Brasil aconteceu entre 2014 e 2017, mas o impacto climático atual está sendo comparado pelos produtores de café ao clima extremo visto, pela última vez, em 2007, quando a safra de café do país caiu 21% no ano seguinte. Na época, os cafeicultores estimaram uma queda de 37% no volume do café.

“O clima extremo está se tornando cada vez mais frequente e não mais uma exceção à regra. Para tentar se adaptar às mudanças climáticas, os cafeicultores brasileiros estão investindo cada vez mais em métodos e equipamentos agrícolas sustentáveis para produzir os maiores volumes de café da mais alta qualidade do mundo para cadeias de varejo, supermercados e cafeterias de alto padrão, bem como para os amantes profundos do café em todo o mundo. Entretanto, é necessário o apoio dos consumidores e das autoridades para nos ajudar a enfrentar essas secas ou chuvas excessivas”, diz Vanusia Nogueira, diretora do Brazil. The Coffee Nation (Brasil. A Nação do Café), projeto focado em promover práticas de sustentabilidade em todo o setor cafeeiro do país.

A expectativa é de que a demanda de café diminua somente no primeiro trimestre, antes da colheita de maio. Entretanto, a queda virá quando a demanda global voltar a crescer em 2021, em particular, na Europa – quando países como o Reino Unido e a França saírem do lockdown e as cafeterias, por exemplo, forem autorizadas a operar em horário normal novamente. Nos primeiros oito meses de 2020, a demanda europeia pelo café brasileiro cresceu 1,5%, apesar da pandemia do COVID-19. Países como a Alemanha, Bélgica, Espanha, Suécia, Grécia, Noruega e Polônia, aumentaram as encomendas.

Para a colheita do café 2020-2021, o resultado ainda é incerto, pois algumas regiões, como o Espírito Santo, foram menos afetadas em relação aos estados de Minas Gerais e São Paulo. Isto é significativo, pois 30% de café no mundo é fornecido pelo Brasil e é, de longe, o maior produtor de grãos de café globalmente. No momento, os agricultores estão prevendo uma queda de mais de 10% e, em alguns casos, de 30%, enquanto há aqueles que foram extremamente afetados.

“A sustentabilidade já é uma parte fundamental do trabalho diário de mais de 310 mil cafeicultores brasileiros, mas é preciso investir e fazer mais nos cenários nacional e global. O Brasil reduziu 10% das terras que utiliza para produzir café desde os anos 90, mas aumentou a produção em 30%. Outros compromissos com a agricultura de café sustentável vão levar os cafeicultores ao próximo nível, em termos de ajudar o meio ambiente e aumentar a produção com a mesma quantidade, ou menos, de terras. Mas, para isso, precisamos envolver mais setores agrícolas em outros países”, acrescenta Vanusia, que também é diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA – Brazilian Specialty Coffee Association), que educa os cafeicultores sobre práticas de agricultura sustentável.

Por exemplo, 98% da cafeicultura da Amazônia ocorre em Rondônia. Lá, a área utilizada para a produção de café caiu 78% – 71 mil hectares desde 2001, enquanto a produção aumentou 21%.

Atualmente os cafeicultores investem em inúmeros programas, incluindo a cafeicultura orgânica em uma floresta na região montanhosa do Espírito Santo, na Fazenda Camocim; uma nova fazenda de energia solar na Fazenda Monte Alto, em Minas Gerais; um programa de polinização de abelhas envolvendo sete milhões de abelhas nas Fazendas Caxambu e Aracaçu, no sul de Minas Gerais; além de um programa premiado de produção de café indígena no norte de Rondônia, bem como programas de reflorestamento e uso de água em fazendas.

Sobre o Brazil. The Coffee Nation

O projeto é desenvolvido pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA – Brazilian Specialty Coffee Association), em parceria com a Apex-Brasil. O projeto está focado na conscientização internacional sobre as práticas brasileiras de produção de café sustentável, incluindo inúmeras iniciativas, como reflorestamento, produção orgânica de café, repovoamento de terras com animais, uso sustentável da água, repovoamento de abelhas, sucessão familiar e muito mais. Há muitas iniciativas em andamento que estão por trás da produção brasileira de café de alta qualidade por meio de tecnologia de ponta baseada em pesquisa.

O projeto está focado em oferecer processos exclusivos de certificação e rastreamento que são utilizados na produção nacional de cafés especiais, destacando sua responsabilidade socioambiental e incorporando vantagens competitivas aos produtos brasileiros.