“Distância não define sustentabilidade”, defende Comissão Europeia



“Distância não define sustentabilidade”, defende Comissão Europeia

Rupert Schlegelmilch, Diretor de comércio para as Américas do DG-TRADE (Diretório-Geral para o Comércio da União Europeia), defende que trocas comerciais e longas cadeias produtivas agrícolas não representam, per se,problemas de sustentabilidade. A afirmação foi feita no seminário online Food Production and the Trade Map, organizado pela agência de mídia europeia Euractiv com apoio institucional da Apex-Brasil.

O foco do debate foi o diálogo e eventual tensão entre a promoção do consumo local e os benefícios do comércio global”. Lea Auffret, da Organização Europeia de Consumidores, que representa 44 associações nacionais, mencionou pesquisas que apontam que 2/3 dos consumidores no continente estão dispostos a mudar seus padrões de compra para práticas consideradas mais sustentáveis, normalmente associadas à aquisição de produtos locais. Ela adicionou que, na Europa, a origem dos produtos (e a imagem a ela atrelada) é um importante elemento na hora do consumo.

Contrapondo essa visão, o representante da Comissão Europeia, Rupert Schlegelmilch expôs que a distância da cadeia produtiva não é um indicador de sustentabilidade. Ele lembrou que, especialmente na cadeia agrícola, uma produção distante pode ter menos impactos ambientais, por condições de solo e clima, que uma produção local com diferentes condições de cultivo e maiores períodos de armazenamento frigorifico, por exemplo. Segundo Rupert, as abordagens local e global não são excludentes, mas complementares.

Participou também do debate o Professor Doutor Marcos Jank, que abordou a importância do comércio internacional para a manutenção dos níveis de consumo e para a disponibilidade de estoques nas diversas partes do globo. Ele ponderou que as prioridades de consumo não são homogêneas entre e intra países, de modo que algumas classes sociais seguem demandando produtividade e preços acessíveis do setor agrícola mundial. Diferenças de condição de cultivo exigem, ainda, a manutenção das cadeias globais, explicou o acadêmico.

Mario Jales, da Divisão de Comércio Internacional e Commodities da UNCTAD, órgão das Nações Unidas que busca promover integração de países em desenvolvimento na economia mundial, realçou que políticas que estimulem o consumo local de alimentos devem ser ponderadas, a fim de não distorcer os fluxos comerciais globais. Distorções de fluxos e preço seriam especialmente nocivas aos países em desenvolvimento que dependem da exportação para garantir níveis adequados de nutrição e renda. A dependência dos mercados externos é uma realidade para 51 países localizados na América Latina, África e pequenas ilhas em desenvolvimento.

Marcos Jank corroborou essa perspectiva, salientando a importância do comércio em alimentos, sobretudo na faixa tropical do mundo, em resposta aos desafios da pandemia do coronavírus. Com relação às propostas de encurtamento das cadeias de alimentos, expressou preocupações de que o movimento gere insegurança alimentar ao redor do mundo.

A gravação do evento, na íntegra, pode ser acessada através do link.