Eleições na Alemanha e perspectivas para o acordo EU-Mercosul
As eleições federais realizadas na Alemanha em 23 de fevereiro de 2025 marcaram uma mudança significativa no cenário político do país. A vitória do bloco de centro-direita, composto pela União Democrata-Cristã (CDU) e sua aliada bávara, a União Social-Cristã (CSU), sob a liderança de Friedrich Merz, encerrou o ciclo da coalizão “semáforo” – aliança política entre o partido social democrata, o partido verde e o partido liberal, cujas cores lembram as luzes de um semáforo – liderada pelo ex-chanceler Olaf Scholz. A CDU-CSU (União) obteve 28,6% dos votos, conquistando 208 assentos no Bundestag. A Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita, alcançou seu melhor desempenho nacional, com 20,8% dos votos e 152 assentos. Os Social-Democratas (SPD) caíram para a terceira posição, com 16,4% dos votos e 120 assentos, enquanto os Verdes obtiveram 8,8% dos votos e 85 assentos.
Com esses resultados, Friedrich Merz recebeu um mandato para formar uma coalizão, com a União conquistando assentos suficientes para formar uma provável coalizão com os Social-Democratas (SPD), criando uma “Grande Coalizão” que contaria com 328 assentos dos 316 necessários para formar uma maioria. Outro cenário possível seria uma coalizão entre União, SPD e Verdes. O fato de dois partidos menores, os FDP e a BSW, não atingirem a barreira de 5% necessária para garantir representação parlamentar significa que Merz teria a possibilidade de formar uma coalizão sem precisar contar com os Verdes.
Durante a campanha, um dos focos do provável futuro chanceler foi a simplificação das regulamentações, especialmente no setor ambiental, defendendo uma abordagem mais pragmática que não prejudique a competitividade econômica. Essa postura está alinhada com a dinâmica política do Partido Popular Europeu (EPP), o maior partido no Parlamento Europeu, ao qual o grupo de Merz pertence, e vai ao encontro do caminho que a Comissão Europeia tem seguido nas últimas semanas, buscando diminuir as barreiras burocráticas e simplificar as normas ambientais com o objetivo de aumentar a competitividade das empresas europeias.
Perspectivas para o acordo UE-Mercosul
No campo do comércio internacional, Merz enfatizou, durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, a importância de superar os impasses existentes, destacando a necessidade de um eixo franco-alemão funcional para viabilizar novos acordos comerciais. Apesar da oposição de setores agrícolas e políticos franceses, Merz demonstrou disposição em buscar soluções que conciliem os interesses dos produtores europeus com a expansão das exportações para outros mercados, como o Mercosul.
Apesar do Merz defender a “reciprocidade” nas normas de importação, exigindo que os produtores não pertencentes à UE atendam aos padrões europeus, é esperado que o governo alemão impulsione a ratificação do acordo com o Mercosul. Este cenário ocorre em um momento em que a França busca aliados para bloquear o acordo, com o presidente Emmanuel Macron reiterando seu desejo de formar uma minoria de bloqueio contra sua ratificação.