Eleições na Europa central e visita presidencial na França: desafios e perspectivas para o acordo UE-Mercosul 



As eleições presidenciais realizadas em maio e junho de 2025 na Polônia e na Romênia revelaram movimentos políticos significativos para a União Europeia, e particularmente, para o futuro do acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul. 

Na Polônia, Karol Nawrocki, apoiado pelo partido Lei e Justiça (PiS), venceu por margem estreita a disputa presidencial com 51% dos votos, contra 49% do candidato liberal Rafal Trzaskowski. A vitória pode representar um revés para a agenda pró-UE do primeiro-ministro Donald Tusk, já que Nawrocki adotou o lema “Polônia em primeiro lugar” e criticou abertamente políticas europeias sobre clima, imigração e apoio à Ucrânia. Esse lema pode ser interpretado como um compromisso do candidato em priorizar os interesses nacionais acima de acordos externos, especialmente focando na proteção dos agricultores no país. Embora o presidente polonês não tenha papel direto nos conselhos da UE, ele possui poder de veto sobre legislações e nomeações essenciais no país.  

Isso poderia comprometer a capacidade do governo polonês de implementar reformas pró-europeias e de apoiar politicamente o Acordo UE-Mercosul, criticado internamente por agricultores temerosos com a concorrência de produtos agrícolas do Mercosul. A oposição polonesa ao acordo pode somar-se à resistência francesa, além da hesitação de países como Hungria e Áustria na busca de bloquear o acordo no Conselho da UE. Após o resultado, em 11 de junho, o governo do primeiro-ministro Donald Tusk venceu uma moção de confiança no parlamento polonês, evitando eleições antecipadas e mantendo o governo pró-União Europeia. No total, 243 deputados votaram a favor e 210 contra.  

Na Romênia, por outro lado, Nicușor Dan, liberal e pró-europeu, garantiu a presidência, o que foi recebido com alívio em Bruxelas. Diferente da Polônia, o presidente romeno participa diretamente das cúpulas da UE. 

É nesse contexto que o presidente Lula visitou o presidente francês Emmanuel Macron no início do mês de junho. Em coletiva conjunta com o presidente francês, o presidente Lula fez defesas ao acordo UE-Mercosul, qualificado como uma “resposta ao protecionismo e unilateralismo crescentes no comércio internacional”. Durante sua fala, pediu que  Macron “abra um pouco o coração para essa possibilidade de concluir o acordo com o nosso querido Mercosul”. Macron, por sua vez, reiterou publicamente sua oposição ao texto atual, exigindo a “inclusão de um protocolo adicional que estabeleça cláusulas de salvaguarda e a adoção de cláusulas espelho” — que obrigariam os países do Mercosul a cumprir normas ambientais equivalentes às europeias. 

No entanto, há indicações de abertura em outros Estados-membros historicamente críticos: Polônia, Irlanda, Áustria e Itália estão sendo alvo de intenso convencimento por parte da Comissão Europeia, que aposta na flexibilidade política em troca de garantias reforçadas no acordo. No dia 05 de junho, ministros da agricultura da França, Áustria e Hungria emitiram uma declaração expressando suas preocupações comuns sobre o acordo com o Mercosul. 

Do ponto de vista institucional, a diretora-geral de comércio da Comissão Europeia declarou que o processo legal de verificação e tradução do acordo está quase finalizado. A expectativa é de que o texto seja submetido à assinatura dos governos europeus até o final de junho ou início de julho.  

Para ser aprovado, o acordo necessita do apoio de pelo menos 15 dos 27 Estados-membros, representando 65% da população do bloco. A diretora-geral expressou confiança de que o texto final responde às preocupações ambientais e de qualidade alimentar levantadas por diversos países e apresenta uma solução vantajosa diante das tensões comerciais globais.