Farm to Fork (F2F) -estratégia agroalimentar sustentável



A atual Comissão Europeia, empossada em dezembro de 2019, incorporou no seio de suas políticas e estratégias o objetivo de mitigar a totalidade do impacto ambiental gerado pela atividade econômica no bloco. De acordo com a atual Presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, “[o] objetivo é reconciliar a economia com o planeta, e adaptar a maneira como produzimos e consumimos às necessidades do nosso planeta”. Esse objetivo foi apresentado no lançamento do European Green Deal, em dezembro de 2019, sendo esse um abrangente projeto que visa condicionar todas as áreas de atuação política e econômica da União a combater as mudanças climáticas. Dentro das diretrizes do Green Deal, e do plano europeu para uma economia circular, encaixa-se a estratégia Farm-to-Fork (F2F).

A estratégia, chamada literalmente de “da fazenda ao garfo”, consiste em um conjunto de metas e ações que visam estimular padrões sustentáveis em toda cadeia agroalimentar – plantio, colheita, criação de animais, transporte, comercialização, consumo de alimentos. O anúncio da estratégia, no dia 20 de maio de 2020, confirmou expectativas quanto às metas de redução do uso de pesticidas químicos (50%), fertilizantes (20%) e microbianos (50%), esses últimos usados na criação bovina. Após polêmicas, contudo, foram omitidos os incentivos à redução da produção e do consumo de proteína animal. Dentro das metas estipuladas para concretização em 2030, consta ainda a destinação de 25% da área cultivável na União para produção de orgânicos.

Na divulgação, a Comissária europeia para segurança alimentar, Stella Kyriakides, classificou a F2F como uma “oportunidade para reconciliar o sistema agroalimentar [europeu] com a saúde do planeta(…) e atender às aspirações dos europeus por saúde e alimentos eco-friendly”.

O anúncio repercutiu imediatamente no setor produtivo local. O grupo representante do agrobusiness europeu, Copa-Cogega, rechaçou a estratégia como um ataque generalizado ao setor agrícola. Segundo o presidente do grupo, Joachim Rukwied, a obrigatoriedade de preservação de propriedades rurais (10% da área) e o alargamento da produção orgânica criarão incentivos à terceirização da produção fora da Europa. A representação dos produtores de pesticidas, The European Crop Protection Association, pediu metas mais realísticas e baseadas em estudos de impacto. Porta-vozes da associação sugeriram que as metas propostas não levarão aos objetivos almejados de sustentabilidade no setor de alimentos.

Como havia sido previamente anunciado por representantes do DG-SANTE, o Diretório-Geral para saúde e segurança alimentar da Comissão Europeia, os objetivos referentes às práticas alimentares da estratégia não foram estipulados na forma de leis e regulamentos mandatórios. Antes dessa etapa, deve ser ainda estipulada a metodologia de coleta e mensuração de dados. De acordo com a Diretora para segurança alimentar e inovação, Sabine Jülicher, a estratégia almeja “incentivar, educar e informar” sobre os benefícios das práticas sustentáveis ao longo da cadeia de produção, transporte e consumo de produtos de origem agropecuária.

A estratégia também implica em condicionar futuros acordos comerciais do bloco aos padrões de consumo sustentável. A ideia é que exista um capítulo de sustentabilidade que abranja áreas-chave como bem-estar animal, uso de pesticidas e combate à resistência antimicrobiana. De acordo com a estratégia, a UE se esforçará para promover normas internacionais em diversos órgãos relevantes, e em incentivar a produção de produtos agroalimentares conforme altos padrões sustentabilidade estabelecidos.