Possíveis imposições tarifárias entre UE-EUA e implicações para relações comerciais do Brasil com a UE



Em 23 de maio, o presidente Trump declarou publicamente que pretendia impor uma tarifa linear de 50% sobre produtos importados da UE a partir do dia 1 de junho, justificando que o bloco se beneficia excessivamente dos mercados norte-americanos e culpando os europeus pela ausência de acordo entre os dois parceiros comerciais.  

Essa medida foi posteriormente suspensa após conversas entre Trump e a presidente da Comissão Europeia, com prorrogação até 9 de julho, sinalizando o uso de possíveis imposições tarifárias como mecanismo de pressão nas negociações. A própria UE estima que as sinalizações de Trump agora cobrem € 380 bilhões (US$ 434 bilhões), ou cerca de 70%, de suas exportações para os EUA. Para comparação, o total exportado da União europeia para o Brasil em 2024 chegou a US$ 47,3 bilhões.  

A UE por sua vez já aprovou tarifas sobre € 21 bilhões (US$ 24 bilhões) em bens americanos em resposta às taxas sobre metais de Trump, que podem ser implementadas rapidamente, caso as negociações não se concluam. Essas medidas visam principalmente estados americanos politicamente sensíveis e incluem produtos como soja, bem como produtos agrícolas, carne de aves e motocicletas. Adicionalmente a essa lista inicial, a UE também está preparando uma lista adicional de tarifas sobre € 95 bilhões (US$ 109 bilhões) em produtos americanos que visariam bens industriais, incluindo aviões, carros e bourbon. 

As sinalizações de possíveis imposições tarifárias, apesar de ainda não implementadas, já tem consequências concretas: a UE está enfrentando um aumento significativo nas importações de produtos de aço de até 1.000% desde 1° de janeiro, em relação ao ano anterior. Isso representou quedas acentuadas nos preços internos, ameaçando a indústria siderúrgica local, que está pedindo medidas urgentes, como a imposição de tarifas e apoio à produção doméstica. 

Durante reunião do comitê de agricultura do Parlamento Europeu em 3 de junho, a Comissão Europeia se pronunciou sobre o regime tarifário volátil dos EUA, incluindo os aumentos (suspensos, mas iminentes), de até 50% sobre produtos europeus, com destaque para produtos agroalimentares como laticínios e vinhos. Diversos eurodeputados expressaram preocupação com a falta de clareza das medidas e o impacto severo sobre os produtores da UE. 

A Comissão reiterou que sua prioridade era alcançar uma solução negociada, mas que preparava contramedidas e estratégias de diversificação comercial. Nesse sentido, foi mencionado que acordos de livre comércio com blocos como o Mercosul estavam sendo finalizados, embora vários parlamentares tenham manifestado dúvidas sobre a capacidade desses acordos de compensar as perdas no mercado americano, especialmente em setores como rações animais e bebidas alcoólicas. 

Cristina Maestre (S&D, Espanha) elogiou o esforço da Comissão em manter o diálogo aberto, mas alertou que o setor alimentar era o mais penalizado nas tensões atuais, e expressou ceticismo sobre o potencial de compensação via acordos como o do Mercosul. 

Paulo do Nascimento Cabral (PPE, Portugal) defendeu a urgência na conclusão do acordo com o Mercosul, destacando a necessidade de fortalecer parcerias com aliados estratégicos em tempos de incerteza. Já Gilles Pennelle (França, PfE) foi crítico, afirmando que o “software da UE está desatualizado”, pedindo reconquista da soberania alimentar e criticando o acordo com o Mercosul por “não oferecer garantias reais aos produtores europeus”. A Diretora da Comissão Europeia para Agricultura Internacional lembrou que a UE buscava apoiar setores afetados com novas oportunidades através de acordos comerciais.  

Em meio a esse ambiente turbulento do comércio internacional, a ApexBrasil organizou o Fórum Econômico França-Brasil em Paris, no dia 06 de junho, reunindo empresários dos dois países, visando – entre outros – o aumento do comércio de maneira significativa e aumento dos investimentos bilaterais.  O presidente do Conselho Europeu, António Costa, também realizou uma visita oficial ao Brasil entre 27 e 29 de maio, com o objetivo de fortalecer a cooperação política e econômica entre a União Europeia e o Brasil. Ele frisou que, em tempos de tensão geopolítica e volatilidade econômica global, esta afirmação de parceria reforça a defesa do multilateralismo e a transição verde e digital conjunta.