Protestos agrícolas e o Green Deal
A estratégia Farm-to-Fork é o plano dedicado a propostas legislativas e não legislativas para o setor agroalimentar que faz parte do plano de descabornização da União Europeia, o Green Deal. Desde sua concepção, a redução do uso de fertilizantes e pesticidas químicos e o aumento da produção de orgânicos para 25% da área cultivada no bloco europeu são algumas das propostas rechaçadas por grupos de produtores locais.
A defesa de interesses do setor agrícola tem conquistado sucessos pontuais em Bruxelas ao longo dos atuais mandatos do Parlamento Europeu e da Presidência de Ursula von der Leyen na Comissão Europeia, ambos com conclusão em 2024. Alguns exemplos são a não-vinculação dos vultosos subsídios agrícolas (cerca de 30% do orçamento da União Europeia) ao uso de práticas de descarbonização e a rejeição, no Parlamento, de proposta para o Uso Sustentável de Pesticidas.
Com considerável força política, produtores agropecuários representam a principal oposição aos acordos comerciais negociados pelo bloco, especialmente nos casos de Mercosul, Nova Zelândia e Austrália, este último encerrando as negociações em 2023 classificando a oferta europeia de insuficiente.
Em janeiro, uma onda de protestos na França, Espanha, Países Baixos, Alemanha, Itália e Grécia enfatizaram uma lista de insatisfações políticas locais, como subsídios a combustíveis, e europeias como requisitos de reduções de emissões de nitrogênio e a Nature Restoration Law. O ápice das manifestações nos Estados-membros coincidiu com ações coordenadas em Bruxelas durante encontro de chefes de Estado e de Governo para a reunião do Conselho da União Europeia do dia 01 de fevereiro. Além de impactos logísticos no trânsito local e na reposição de alimentos em supermercados, o principal resultado das manifestações foi a revogação de um requisito de conservação ambiental condicionante para recebimentos de subsídios agrícolas. Foi suspensa a exigência de improdutividade em 4% das terras agriculturáveis, em cada propriedade rural, para manutenção da saúde dos solos. A isenção é válida para produções que tenham ao menos 7% da área cultivada destinada a culturas de cobertura como lentilhas, ervilhas e feijões.
Grande parte desse movimento está associada à ascensão de grupos de extrema-direita ao longo do continente à meses das eleições ao Parlamento Europeu que ocorrerão em junho. Sondagens atuais indicam uma maior fragmentação na composição dos grupos políticos no Parlamento com expansão da extrema-direita e redução dos Verdes. Após os 5 anos do Green Deal como a principal estratégia da Comissão Europeia, a continuação das propostas de descarbonização, mesmo numa eventual reeleição de Ursula von der Leyen, dependerá do cenário político nos Estados-membros e na futura composição do Parlamento.