Reino Unido esboça nova rede de acordos comerciais fora da União Europeia



Reino Unido esboça nova rede de acordos comerciais fora da União Europeia

O Reino Unido é, tradicionalmente, um expoente do liberalismo comercial. Isolado geograficamente em terra, sua posição insular sempre o levou a buscar os chamados acordos overseas. A oficialização da saída da União Europeia abre oportunidades comerciais sem antecedentes para o país. Ao menos esse é o posicionamento formal do governo do Premiê Boris Johnson. Se, em 2021, o Reino Unido não mais fará parte do Mercado Comum Europeu, inéditas negociações foram iniciadas com Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Japão. De acordo com a secretária britânica para o comércio, Liz Truss, a saída da União Europeia abrirá possibilidades de “reforçar parcerias ao redor do mundo” e de girar o eixo comercial britânico em direção à região Ásia-Pacífica. Segundo Truss, isso deixará as cadeias de produção do país mais resilientes a choques econômicos e políticos em outras partes do mundo.

Estados Unidos. As tratativas foram oficialmente lançadas em maio e, até junho, já ocorreram duas rodadas de negociação. O país norte-americano é um histórico aliado do Reino Unido e, se alcançado, um acordo significaria uma grande oportunidade comercial, sobretudo dadas as incertezas quanto à futura parceria com a União Europeia. Apesar de opiniões em Bruxelas sugerirem que o Reino Unido queira usar a negociação transatlântica como barganha nas negociações com o bloco europeu, o objetivo britânico é concluir um acordo extensivo que cubra os setores agrícola e industrial. Nesse último, o Reino Unido possui grande interesse em cerâmica e automóveis, conforme comunicado do Governo. Já os Estados Unidos se empenham, sobretudo, para ganhar mercado para seus produtos agrícolas. As partes esforçam-se para concluir as conversas antes das eleições estadunidenses em novembro.

Austrália e Nova Zelândia. Em junho, o Reino Unido anunciou o início formal de negociações independentes e simultâneas com as duas principais economias da Oceania. Segundo o governo britânico, essas negociações podem aumentar as exportações em cerca de 1 bilhão de libras esterlinas anuais. Estima-se que as indústrias de bebidas, automotiva e de serviços sejam as mais beneficiadas. No setor agrícola, são antecipadas oportunidades no comércio sazonal. Considerando que as estações são invertidas entre os hemisférios Norte e Sul, as safras britânicas e desses parceiros seriam complementares ao longo de todo o ano. Ademais, o Reino Unido pode beneficiar-se da redução de barreiras para os produtos não produzidos localmente, a mencionar o açúcar de cana australiano, tradicional concorrente do produto brasileiro.

Japão.   O país asiático já possui um acordo de cooperação econômica com a União Europeia, que elimina, em quase 100%, as tarifas de importação e reduz barreiras não-tarifárias. O acesso ao mercado, garantido por esse acordo, tornou-se o benchmark­ britânico para as negociações com o Japão, lançadas em maio. O governo do Reino Unido almeja, no entanto, aumentar sua influência junto a esse parceiro, incluindo o setor de comércio eletrônico e ambiciosos padrões comerciais. Com a negativa japonesa de replicar as concessões de acesso a mercado existentes no acordo com a União Europeia, a tendência é que o país endureça sua posição no setor agrícola – haja vista recentes liberalizações em favor da Parceria Transpacífica, dos Estados Unidos, e do próprio bloco europeu.