Reino Unido – nova vida comercial fora da UE



Com a saída do Reino Unido da União Europeia, o país vislumbrou novas oportunidades de acordos comerciais com objetivo de fortalecer seu comércio. Fora da cobertura da rede de acordos que o bloco detém com terceiros mercados, o Reino Unido acelerou as negociações para fechar novos acordos em curtíssimo prazo.

No ano passado, o Reino Unido negociou inúmeros acordos para manter sua relação com países que já tinham tratados por parte da União Europeia, além de ter firmado outros. Dentre os acordos que foram ratificados e entraram em vigor em 1º de janeiro de 2021, destacam-se os acordos com o Japão, México, Coreia do Sul, Singapura, Suíça, União Aduaneira da África Austral e Moçambique (SACUM) e América Central.

O país britânico também pretende concluir acordo com a Austrália em junho. Ademais, o Reino Unido intensificou as negociações com a Nova Zelândia, pretende celebrar acordo com a Índia, e também se prepara para aderir ao Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Trans-Pacífico (CPTPP).

A velocidade das negociações e o número de acordos em andamento estão preocupando empresas, sindicatos e especialistas. Para que os acordos sejam equilibrados, beneficiem ambos os países e perdurem ao longo do tempo, os impactos cumulativos devem ser analisados e as concessões negociadas com cautela.

Nesse sentido, a consulta pública representa um mecanismo fundamental para negociar acordos equilibrados apoiados pelos stakeholders locais. No entanto, com a velocidade com que o governo está negociando, o “mecanismo de consulta” não tem sido utilizado. Segundo Rosa Crawford, Oficial de Política Comercial do Trade Union Congress (TUC), “parece que é pelo simbolismo de conseguir um acordo fora da União Europeia”, disse ela, “em vez de se perguntar ‘vale a pena?’, ou existem aspectos negativos de se implementar o acordo?”

Crawford argumenta que a velocidade das negociações está impedindo o Reino Unido de utilizar sua influência para insistir no respeito pelos direitos humanos ou direitos trabalhistas nas negociações dos acordos.

Nas últimas semanas, os agricultores do Reino Unido alertaram que as disposições do acordo com a Austrália poderiam prejudicar a indústria no longo prazo e abrir precedente para outras negociações nessas linhas com Canadá e México.

Em uma carta à Secretária de Comércio, Liz Truss, a Secretária de Comércio Internacional da Shadow, Emily Thornberry, direcionou sete perguntas à chefe comercial do Reino Unido para que sejam respondidas antes do parlamento entrar em recesso. A preocupação principal é com o fornecimento de carne bovina e ovina australiana mais competitivas que as locais ou britânicas. Ademais, Thornberry recorre a Truss para esclarecer se as avaliações do governo mostram que o acordo pode levar a “uma queda na produção e no emprego agrícola no Reino Unido e nos setores de alimentos semiprocessados”. Thornberry também questiona se o Reino Unido adotará medidas de salvaguardas para proteger a indústria contra um aumento súbito nas importações em um determinado ano, assim como fizeram os principais parceiros comerciais da Austrália.